Palavras não ditas
[choro engasgado]
rompido,
silenciado,
impedido
pela vida,
pela morte,
quem sabe?
Agora(?) é tarde.
SEMPRE FOI!
Se foi,
foi tarde, foi precoce
foi uma vida de dor e de marcas,
cicatrizes abertas,
rasgadas,
espessas.
[como sangue no asfalto]
[como a fome de quem não come]
Sepultado, renasce a dor,
a agonia,
a solidão.
“se fosse diferente”
guardo meu idealismo
e o enterro junto a ti!
Já estavas morto, pai!
Morto pela vida,
morto pela sub-vida
sobrevivida,
subsumida
disseminada,
disseminada,
di
la
ce
ra
da,
cheia de dor,
sofrimento,
ódio.
Vida de fugas,
fugazes alegrias,
sensações da carne,
ilusões da alma.
- todos bem sabemos -
Uma bala,
calibre 45,
automatica[mente]
guardada ainda na bolsa.
Assim como te atravessou,
atravessa hoje minha vida.
Carne fétida,
pútrida,
corpo baleado,
pavor,
violência,
será este seu legado?
Escolheste teu fim
- ironicamente -
Traçaste teu caminho
lentamente.
Você, sujeito!
Você, indivíduo!
Mas também te incumbiram de tua função.
[pecinha ridícula do sistema]
Quem?
não tem face,
não tem nome.
Hoje mais quantos cumprem teu papel?
Hoje mais quantos são infelizes?
Foste apenas mais um,
sou apenas mais uma.
Entre fogo e sofrimento,
engulo as lágrimas, recolho
os cacos e
RENEGO!
Renego teu mundo sem senso,
Renego tua vida de violência,
Renego tua opressão e teu machismo,
Renego tua escrotice de ser (des)humano do nosso tempo!
VAI EMBORA, PAI!
e leva contigo a dor que me trouxeste!
Eu fico, e continuarei
lutando
para que pessoas como você
não tenham sentido em existir!
Ficarás guardado
na forma de revolta
contra o que é maior do que
nós
e nossa vida.
Por que não se trata de
ti e de mim
- bem sabemos.
18/04/2013
Entre plumboso e férrico, entre carbono e diamante. Há muito que não lia algo tão denso e tão bem construído, no texto e na forma!
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