terça-feira, 5 de agosto de 2014

Sobre a arte de dar sentido à vida




A fumaça do vigésimo cigarro sobe pelo ar. Densa, assim como meus pensamentos. Turvos, como águas profundas de um oceano que não conheço. Uma pergunta não cala - Porque viver? Qual o sentido da vida?

Acompanhada de minhas úlceras, reflito mais um pouco, como se fosse a primeira vez que tais pensamentos se apresentassem a mim. Penso em minha vida e nos anos em que carrego comigo um projeto que não é apenas meu, mas de nossa classe. E portanto, transcende a mim e ao meu desprezível tempo de indivíduo.

Subverter a ordem! Transformar a sociedade por inteira! 

Olho para fora e vejo gente, bicho, planta, carros, asfalto. Gente atomizada como bicho, desumanizada, reificada. Gente que se mistura com asfalto - cinza. E torno a me perguntar: Qual mesmo o sentido da vida neste mar de merda?

Deus, religiões, livros de auto-ajuda, compras, comidas, drogas, todos os tipos de fugas e muletas (nunca os tivemos tantos!) arranjamos para esboçar qualquer resposta. Lembro-me das palavras de um querido amigo: "a vida por si só não possui sentido algum." A existência não se justifica em si mesma. Não precisamos propagar a espécie: o mundo já o está cheio dela. Viver apenas para reproduzir essa sociabilidade torna-se um despropósito à humanidade. O mais nobre sentido da nossa existência só pode ser o de buscar tomar nossa história pelas mãos. Temos o direito de assumir o protagonismo de nossas vidas e de nossos destinos.

Imagino um dia em que a vida possa ser realmente vivida e não apenas miseravelmente sobrevivida. Imagino todas as necessidades e potencialidades humanas que poderão ser desenvolvidas sobre outro patamar de relações entre os seres humanos: sequer consigo mensurar... a filósofa faxineira, o pedreiro arquiteto, o lixeiro compositor de música clássica,...  
Qual melhor sentido da vida, senão a luta para que a vida um dia seja plena de sentidos?

05/08/2014