quinta-feira, 21 de março de 2024

Carta para um tempo


Construa redes, pontes e laços, mas busque cada vez mais as tramas autênticas - aquelas que atravessam, modificam e transformam.

Que o oportunismo alheio não lhe faça desistir da coletividade. Lembre-se que ela existe no hoje. E promessa de futuro, nem você mesma pode se fazer com a rigidez da palavra pedra.

Se preserve. Que as portas e janelas sigam abertas, mas não para tudo e nem a qualquer hora. Reconheça teu território.

Construa profundezas de humanidade revolta. Essa é a beleza do teu viver e o farol dos teus olhos.

Que não deixes de pronunciar a palavra camarada. Ela ainda é a mais bela.

Não deixe de se entregar, mas esteja atenta. Que teu amor solitário se torne um companheiro ameno.

E que estejas pronta para se ver totalmente sozinha. Aceite as mudanças e os desenlaces. 

Que os caminhos possíveis e almejados não sejam os óbvios.

Que as saídas fáceis não te seduzam, mas que não te prives de ver a simplicidade das coisas.

30/12/2023

Para dias difíceis

 


Para um pouco! Te olha no espelho e

Toca teu rosto 

vê tua cara…

Cada linha na tua face

expressa a tua jornada

a chutes e pontapés

Porque é assim que 

nos é imposto.


Viver é lutar!

Ainda que só quisesse 

um sono tranquilo, 

ouvir os pássaros

e o céu contemplar.


Nesse labirinto,

cada porta abre uma batalha

cada troca entre as nossas

compartilha uma dor,

ainda que não falada.


Por isso tudo,

precisamos que respire!

Que lembre de quem tu és.

Que mergulhe na solidão-mulher.


Que não te esqueças

que tuas marcas no corpo

teu cabelo prateado

teu olhar taciturno e teus passos marcados

são fruto

da forja bruta 

do nosso tempo e

são germe do novo

que acolhe em sonhos e pensamentos

pois até ali adoecemos

até ali, é grito rouco.


Para tempos difíceis,

Respostas não óbvias.


Te olha, te vê e te ampara!

Estamos aqui com as mãos estendidas basta segurá-las

porque contigo e no bando

sem juras de amor

travamos as mais belas batalhas

ensaiamos voar para além da dor

ousamos coletivizar toda essa força

que a vida nos obrigou.


O lugar seguro que desejas

(e mereces)

está aqui, entre semelhantes.

Não abandonemos esse laço,

nem nos dias mais angustiantes.


Esteja contigo…

descansa, respira,

Sinta nosso abraço

e reabra as janelas 

para a vida, ainda que só,

em tua companhia,

no teu próprio compasso.


Refaz tua rota,

recalcula os planos.


Dessa vez, 

você vem primeiro

enquanto mãe, mulher,

militante, proletária,

ser que transforma e

atravessa quem toca.

Nada de sombra, nem 

de bengala.


Que caiam as máscaras

para florescer a potência

da vida por inteiro.

Entre o fim e o começo,

viver e sentir o meio.


Já é tempo de firmar em si

tomar teu rumo pelos dedos

ainda que em pedaços

você saia.

Cortar e sangrar todo dia 

o peso da navalha.


Que teu tesão floresça e 

que a vida te acolha

com a justiça e a dignidade

de quem soube fazer sua escolha.


Com o carinho e a camaradagem 

de quem de longe

te quer bem

e te quer junto mesmo distante

nessa breve e insistente vida

que só faz sentido algum

quando decidimos transformá-la

engendrar nossas mãos para um dia

viver plena de sentidos

e humanizada.


Que nenhuma mulher ou menina

seja subjugada.

Que as relações sejam enfim

não mercantilizadas.

Que os amores e nossa sexualidade

sejam livres de toda a estrutura 

que um dia foi herdada.

Que o amor camarada

possa enfim existir

e que até lá, você nos tenha

como o germe do que há por vir.


Contigo em mim e ainda em ti,

nessa longa, dura e bela caminhada.