PALAVRAS DE MÃE
Um punhal cravado no peito
quando sem flores ela lançou:
Pro relacionamento ser abusivo
não é só com agressão.
Eu lembro bem a primeira vez que vi ele gritar com você.
Meus olhos mergulharam
em profundas águas
Os ouvidos relutantes
se dobraram
às concretas e ásperas palavras
Das cicatrizes silenciadas,
dos ossos recalcitrados,
do riso esquecido,
de toda uma vida marcada.
Despiu o que no fundo,
renitente, eu não aceitava.
A universalidade
feminina no patriarcado:
SER SUBJUGADA!
Mulher,
Mulheres.
A velha sina predestinada
que mesmo ante o abismo
jamais será ponte, caminho, estrada.
Abraça lento com sutis tentáculos
vestidos de amor e convida
à repetição de labirintos floridos.
De todo o zunido do vento
das ladainhas e cantilenas empoeiradas
dos gritos surdos do casamento
guardei aquelas sábias palavras
da mãe-coragem de nossos tempos
De tanta vida calejada,
ela pariu o horror
estranhado no espelho.
E mais uma vez, me mostrou
sem melindres, nem volteios
a violência
que um dia chamei de amor.
28/10/2019 - 21/04/2025
Hoje, entendo como foram anos de violência: gritos, controle, manipulação, socos e chutes na parede. Surtos pra eu fazer o que ele queria. Inclusive paguei um TCC pra ele (depois dele surtar comigo sobre isso) e fui proibida de contar isso pra qualquer pessoa. Violência política quando estivemos no mesmo partido: ele operava pra me silenciar, me deslegitimar e me apagar politicamente. Em casa, falávamos de questões internas, ele encaminhava o papo com críticas severas e eu, nas reuniões, por muitas vezes expunha essas críticas (depois de ter concordado com a opinião dele) enquanto eu era a pessoa que criticava, ele esperava pra se colocar como "mediador" do debate. Ele se reunia em paralelo com pessoas da organização, inclusive mulheres, quando nessas conversas, ele me queimava, insinuava que minha condição de dirigente se devia a ele, contava mentiras deslavadas sobre mim. Isso são só alguns relatos.