quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O PULSO DO PASSO

 








O PULSO DO PASSO


(à vitória do dia 12 de fevereiro de 2015 dos educadores do Paraná contra o governo)


Correnteza que varre certezas e parlamentos

o asfalto suava sob incontáveis passos.

O povo, cuspido da sala de aula,

escarrado na rua

gritava uníssono entre aplausos e rajadas:


- Não tem arrego! 

(era mais alto)

Naaaaoooo teeeem arregoooooo


Entraram como deveriam entrar

sem pedir licença, com pé na porta

sem aguardar chamadas de presença, 

nem comandos enferrujados.


Humilhados, os vermes no camburão

tramavam outra dança:

bombas, tiros, canhão 

SU-PER-SÔ-NI-CO


Apesar de seus ternos caros,

foram despejados

não pela burocracia,

mas pela revolta canalizada.


Livros, gritos, convicções, 

palavras incendiárias,

a “tia da merenda”

numa fúria revolucionária.


Sonido, ruido, rugido

prenúncio vivo do amanhã.


E por um dia - pelo menos um -  

os que escrevem a história dos outros

rascunharam sua própria,

com voz, com força,

com luta.


O plenário, enfim, cumpriu sua função

vestido de resistência, tingido de povo, 

ecoou a voz das ruas!


Num único dia reluziu 

o pulso do novo

batidas revoltas

que há 10 anos insistimos,

entre trancos e barrancos,

persistimos

no alçar do

                 próximo 

                              passo.


12/02/2025


Escrito em parceria com Vinícius Prado, companheiro das profundidades da vida.

E AS AULAS SEGUIRAM NORMALMENTE




E AS AULAS SEGUIRAM NORMALMENTE


pulso interrompido
a corda ainda suspensa
vida que escorre
mais uma prematura partida
sem cerimônia nem alarde

e as aulas 
seguiram normalmente.

assédio, metas, máquinas 
roleta russa moi artérias 
explode miocárdios
gritos de socorro não dados
pro laudo “mais um infarto”
uma professora morreu na escola

e as aulas 
seguiram normalmente.

não há tempo para velórios
nem sequer sepultamentos
lamentos coagidos silenciam
constrangidos pelo horror
que impera e abraça o cotidiano
naturaliza a pedra
coisifica o humano
reduz empatia à fraqueza
ridiculariza a dor alheia

lágrimas de sal vertem restos
do germe que não vingou 
tornam inócuo o protesto
de quem um dia projetou 
um futuro emancipado
ou menos, apenas exercer
seu trabalho 

o que reina no agora
é a pedagogia do absurdo
gritos surdos ecoam
em ouvidos desprovidos
de conexão com o outro

enquanto isso, 
poetas flertam com o abismo
espelho do mundo 
lamento doente
e as aulas

seguem normalmente.


09/09/2025