VULCÂNICAS
Para as mulheres
que se traduzem em poesia
Que seres são esses
que transbordam vísceras
quentes e espessas
que destroem e criam
paisagens inteiras?
Tecem vínculo estranho
ao cotidiano
entrelaçam mãos e afetos
como casulo-gesto
da negação de um mundo tirano
Erguem moradas acolhedoras,
apesar dos encanamentos que insistem em
gotejar antigas dores.
Grupalizam,
apesar do encapsulamento que persiste
no eterno hoje.
Atiram palavras-molotov
explodem em declarações de guerra
e de amores.
Trançam manifestos por novos voos
asas abertas e peito ao vento
subvertem a moral
conspiram contra o bom senso
Travam batalhas
no corpo público-político,
palco, picadeiro, trincheira
Barricadas e granadas
lhes acompanham ao largo de uma vida inteira
Vão entre o que vive
o preço do feijão, do café, do sabão
que limpa a sujeira do trabalho reprodutivo
não pago e não visto
que desde cedo carregam nas mãos.
Poetas,
vertem o sentimento do mundo
que brota pelos poros.
Oceânicas,
carregam uma imensidão de águas
que limpam os velhos destroços
Vulcânicas,
transbordam em erupção o novo
que reluz no brilho de seus olhos.
15/06/2024