OLHA A MERCEDES
"Olha a Mercedes"
Ouvi isso várias vezes.
Gente vazia de corpos bonitos
E mentes que tantas vezes flertam
com o fascismo.
Culto ao deus dinheiro
A casa do veio careca,
do sempre jovem Ney,
De não sei mais quem...
Ídolos, símbolos
Que projetam sonhos
Ocupam o imaginário popular
Modelos irrealizáveis de vida
"Com esforço e sorte é possível alcançar"
Se "der certo": fama, dinheiro e o que mais desejar
Amortecedor da rebeldia
Que desloca da raiva
Para a meritocracia
Naturaliza a desigualdade
Idolatra a mercadoria
Nojo do senso comum
E reacionário
Que cresce entre meu povo
Dessa gente racista
Que aprendeu a pagar pau
Pra burguês escroto
E ao invés de seu antagônico rival
O vê como quem de fora da vitrine
Almeja um mundo novo.
Mais uma vez, é engodo!
Seduzidos pela desigualdade,
Encantados com a concentração de riqueza
Estranhamente, não passa na cabeça
Nem um segundo que seja
A noção de que o luxo deles
É a exata medida de nossa pobreza?
Contrastes e antagonismos
A existência inconciliável
De polos que somente pacificam
Na cortina ideológica do capitalismo
E meus pobres olhos de poeta mulher militante
Já não podem desver
Já não podem ignorar
A estrutura de classe que grita nesse lugar
Ao observar tamanho deleite
Com a porção da cidade que nem de perto lhe pertence
Não há páscoa que se sustente
Esses são os cristãos e bons
Cidadãos cheios de moral
Que cospem violência, vomitam preconceito,
Para comer na páscoa com bacalhau
Sobre tormentos e tumultos infantis
De meninas crianças que vivem tamanho mal
A violência em casa
Escancarada e sutil
À portuguesa.
Entre abraços cínicos e
Sentimentos confusos.
Ontem ele a agrediu.
Hoje é coelhinho da páscoa
E o bom cristão se reabilita
Finge que nada aconteceu
Olha a Mercedes
O conversível
E as coisas seguem brilhando mais
Do que humano possível
O amor de Cristo reluz
Mais no Rolex
Do que teu símbolo na cruz
Páscoa de 2024
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